terça-feira, 21 de abril de 2015

O MESTRE


// Este texto é extraído do site da Fraternidade LUX et FRARI  e está na íntegra //

Abaixo transcrevo um texto do frater Goya do Círculo Iniciático de Hermes, por estar em plena concordância com os ensinamentos da Fraternidade Lux et Frati. Tomei apenas a liberdade de substituir a palavra discípulo ou aprendiz pela expressão iniciado, por esta, estar mais de acordo com a utilizada em nossa ordem.
Delphos Ankh-Af



Quem é o Mestre?

Por definição, Mestre: O que é perito ou versado numa ciência ou arte. Portanto, o Mestre seria alguém que se dedicou a um determinado ofício, ciência ou arte, até atingir um grau suficiente de instrução que lhe permita ensinar, ou guiar o iniciado.
Todo Mestre foi um dia iniciado. Ninguém nasce Mestre. O aprendizado nunca é um caminho fácil, mas ao contrário, é um caminho exigente e difícil, cujo preço é para a maioria das pessoas, impossível de pagar. Note-se que falamos aqui de um tipo de Mestre específico. O Mestre de uma ordem esotérica. Supõe-se portanto, que o Mestre ou Guia, tenha passado por todas as trilhas e iniciações previamente, as mesmas pelas quais levará seu iniciado. Logo, aqueles Mestres que levam o título sem ter nada praticado na verdade não se encaixam aqui sendo uma vergonha para seu iniciado. Mas voltaremos a eles mais adiante. Não percamos tempo.


A Formação do Mestre

Como alguém se torna Mestre? Em tese, qualquer pessoa pode tornar-se um Mestre, e por vários meios, embora a trajetória seja basicamente a mesma. No processo de formação do Mestre, nem sempre ele possui a idéia clara de que é um Mestre já no início. Mas o fato de não ter consciência imediata disso, não quer dizer que ele ainda não seja um Mestre.
Normalmente, no decorrer dessa jornada, o buscador primeiro responde a um Chamado (anseio) pessoal, que o leva a buscar certo caminho. Esse anseio muitas vezes é um desejo exagerado já na infância por coisas que são inapropriadas para a idade. Aqui estamos falando daqueles que desde de cedo acabam encontrando sua vocação, normalmente no final da primeira infância (a partir dos 7 anos). Depois disso, acabam buscando informações por conta própria, sendo difícil encontrar na história desses buscadores precoces um tutor assim em tão tenra idade. Normalmente a juventude desses buscadores acaba sendo bastante solitária e até podemos dizer marginal, pois em grande parte dos casos demonstra um recolhimento voluntário. Então, na vida adulta, após os 21 anos no Ocidente, é que acontecem as grandes reviravoltas. Normalmente nessa fase é marcada por grandes conflitos pessoais, um desejo incessante de crescer, e uma disparidade entre o que se pensa e o que se vive. Lembramos aqui que em nossos dias ninguém é educado desde a infância para ser Mestre. Logo, quando a fase de amadurecimento ocorre, há um choque entre aquilo que veio aprendido na família de origem, e aquilo que é aprendido por outros meios, sejam eles espirituais ou não. E normalmente, no período ao redor dos 30 anos, tem uma grande virada ou amadurecimento de sua carreira mágica.
Adiante disso, só podemos dizer que normalmente o caminho segue mais tranqüilo, a menos que ocorra algum tipo de virada na jornada pessoal. 


Um Mestre deve ter uma vida perfeita?

Deveria, mas não tem. Muitas pessoas têm o conceito errôneo de que por ser Mestre, o indivíduo deve ter uma vida perfeita. Devemos aqui lembrar que a pessoa pode ser um Mestre, mas o cônjuge, os filhos, ou os parentes necessariamente não o são, e tampouco o são o Chefe do Trabalho, os credores e por aí vai.

Mas se ele é Mestre, como não consegue resolver as questões diárias?

Não devemos nos esquecer que um Mestre é alguém preparado para determinadas áreas do conhecimento. Ele é um especialista, logo, por ser um Mestre no lado esotérico não faz dele um terapeuta familiar, ou um especialista em finanças. O Mestre é alguém que vive no nosso plano físico e portanto limitado às nossas leis e regras como qualquer um de nós. A grande diferença é que ele aproveita muito melhor as chances da sua vida. O verdadeiro Mestre busca o equilíbrio em tudo o que faz, e o alcança na maioria das vezes. E como dissemos adiante, nem sempre os familiares (que são os que estão mais próximos a ele) são Mestres também. Voltaremos a esse tema quando falarmos do Discipulo. 


Um Mestre é alguém Teórico?

Sim e não. O verdadeiro Mestre é aquele que possui habilidades teóricas e práticas. Alguém que sabe passar (logos/teoria) aquilo que se pratica (práxis/prática). Toda prática, leva ao estabelecimento de uma teoria. Por exemplo, o melhor jeito de bater num prego, para que consiga pregar no menor número de marteladas possível. Levando assim, à Teoria do Martelo. Logo, quando for ensinar alguém, vou passar a Teoria do Martelo e a Prática do Martelar...
A grande dificuldade existente hoje, é que muitas pessoas apenas lêem, não praticam, e se dizem grandes conhecedores, pois analisaram todas as possibilidades na sua mente “racional”. Devemos lembrar que essas pessoas “racionais” são as mesmas que não conseguem sustentar uma conversa sob qualquer tema até o final, as mesmas que esquecem metade da lista do supermercado, e as mesmas que tem dificuldades nos caixas eletrônicos. Sendo na verdade, racionais de meia-tigela, que querem bater num determinado artista na rua porque o personagem dele é mau na novela, e é a mesma pessoa racional que se diz elevada espiritualmente e espanca os filhos quando chega em casa nervosa do trabalho. E se dizem racionais...


Mestres Secretos e Mestres Conhecidos

Tradicionalmente existem pelo menos dois tipos de Mestre. Existe o Mestre Secreto ou Desconhecido e o Mestre Conhecido.
O Mestre Desconhecido, deve ser entendido como alguém a quem o aprendiz apenas tem acesso e que pede sigilo, ou ainda a uma egregóra, como Jesus, Buda, etc. Nosegundo caso, o aprendiz absorve de alguma forma o conhecimento fornecido pela egrégoratentando assim obter o que se chama tecnicamente de “revelação”.Muitos adoram usar o termo Mestre como alguém inacessível, porque é importante para eles justificarem sua incompetência em seguir qualquer estudo diligente seja sozinho ou em grupo. Logo, ele cria uma figura idealizada de Mestre Oculto, distante, invisível e em outro plano, porque é incapaz de admitir a si mesmo que apesar de ser um incompetente total naquilo que se propôs, outros podem ser bons alunos e praticantes, chegando a algum tipo de mestria de fato. Surge aí então, o Mestre Conhecido, que é aquele que se mostra publicamente. Talvez nesse ponto é que surjam as grandes dificuldades de se saber quem é quem. Muitas pessoas buscam a mestria como um auto-reconhecimento, um motivo do que se orgulhar.
De fato, não há mal algum em se orgulhar de um trabalho bem-feito, mas algumas pessoas acham que o título lhes garante status, o que não é verdade. Um dos pontos mais facilmente observáveis nos falsos Mestres, é a dificuldade de tê-los disponíveis e a aura de mistério que fazem questão de exalar. Poses, caras e bocas, fazem deles seres inatingíveis. Mas esses, que apenas se fazem de mestres sem verdadeiramente o ser, são descobertos facilmente após algum tempo de convívio. Vamos ao Mestre de fato, aquele que realmente nos interessa. Normalmente, o Mestre Conhecido pertence a alguma escola esotérica. Existem ordens e ordens. Como já foi dito acima, o Mestre é alguém que percorre um longo caminho em direção à perfeição de si mesmo, porque acredita que este é seu papel, ou ainda, também pode ser colocado nessa situação por forças externas a ele. E em especial, o Mestre Conhecido, aquele que se expõe, quando é um Mestre realmente, é alguém que faz das tripas coração para atender seu iniciado.

Por Frater Goya

Transcrito por 
Delphos Ankh-Af