segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Lendas e Mitos do Antigo Egito - Parte 1

PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO

O período pré-dinástico corresponde ao período neolítico antigo até o surgimento do primeiro faraó (Faraó Menés), aproximadamente 3100 a.c. O curso do desenvolvimento pré-dinástico se deu de forma gradual, o que levanta muitas hipóteses sobre a época final do período. Antes da unificação o Egito era constituído de vários Nomos (como se fossem pequenas cidades) cada Nomo tinha sua capital, emblema, divindades e regras. Por volta de 3100 a.c. O Faraó Menés unificou os Nomos, surge a partir daí a técnica de mumificação dos mortos e a personificação dos Neteru, surge aí a ideia de Deuses Egípcios, onde tornou-se possível explicar ao povo comum como se dava os princípios arquetípicos dos Neteru.

O período pré-dinástico é caracterizado por um forte processo de desertificação, onde foram estabelecidas as atuais características climáticas do Egito. Neste período surgiu à agricultura, e as práticas médicas egípcias mais antigas são datadas deste período.


OS NETERU

Neteru é o plural de Neter e Neteret, é traduzido como “Deus” ou “Grande”. O uso real da palavra representa um arquétipo, ou uma força divina, da natureza ou universal que reúne vários princípios e/ou características. São princípios universais, locais ou estelares. Era uma forma de explicar os princípios básicos da vida, astronômicos, funcionamento do planeta e sua influência na vida e no humor das pessoas. 

Os Neteru são forças da natureza, e nenhuma força é superior à outra, pode ser mais acentuada que outra dependendo do local e tempo de atuação. Um Neter/ Neteret pode apresentar características contraditórias e complementares, por exemplo, um arquetípico de maternidade pode ser representado por uma Neteret que possui uma faceta carinhosa ou feroz dependendo das circunstâncias. Na simbologia egípcia a função dos Neteru é desvelada de diversas maneiras: vestimenta, ornamentos, animal, planta, cor, tamanho, posição, gesto, objeto sagrado. Onde é representada toda a riqueza de elementos físicos, psicológicos, fisiológicos e espirituais. O termo Neter significa “princípio”, e indica que os Iniciados egípcios encaravam suas divindades não como deuses no sentido de entes imortais a serem adorados, mas como ideias e qualidades a serem venerados e praticados.



ENÉADE DE HELIÓPOLIS

Existem muitas lendas egípcias para explicar a origem do universo. Entre as mais aceitas está a Enéade de Heliópolis.

Enéade é um termo grego, para nove deuses e deusas, era a base de um dos mitos de criação do antigo Egito. O primeiro mito de criação vem de Heliópolis e inclui nove divindades que surgiram do deus criador Atum e do deus dos oceanos primordiais, chamado de Nun, Atum fez Shu, deus do ar, e Tefnut (Mâat) deusa da umidade. Eles por sua vez fizeram Geb deus da terra e Nuit a deusa do céu. Geb e Nuit eram os pais de Osíris, Seth, Isis e Néftis. A fonte mais completa, até hoje encontrada, vem dos textos das pirâmides, esse mito de criação foi o mais popular em todo o antigo Egito.

As Águas Primordiais eram conhecidas como o grande deus Atum que, de repente, eleva-se de si mesmo e se transforma em um monte de terra, que passa a ser conhecido como a Colina Primordial. Como o universo se encontrava mergulhado em trevas, o surgimento da Colina Primordial significa também o surgimento da manhã, da luz, do dia. Um poema encontrado em uma pirâmide diz o seguinte: “Atum foi criador aos masturbar-se em Heliópolis (tida pelos sacerdotes como sendo a Colina Primordial); pôs o pênis em sua mão para que pudesse sentir o prazer da ejaculação, e com isso nasceram irmão e irmã Shu e Tefnut”.

Shu passa a ser o espaço, a luz no meio da escuridão das Águas Primordiais, ao mesmo tempo em que passa a ser o ar. Como luz, ele separa a Terra e o Céu, e como ar sustenta a abóboda celeste. Com o passar do tempo passou a ser considerado o “Eterno”, mediador entre o Um, o Deus Supremo e as diversas criaturas subsequentes. 

Tefnut tornou-se Maiet (ou Mâat), a Ordem Cósmica sem a qual a vida no Egito não seria possível.


Neteret Mâat JUSTIÇA – representada por uma mulher que traz na cabeça uma pluma de avestruz ou pavão, representa a justiça e a verdade, o equilíbrio, a harmonia do Universo tal como foi criado inicialmente. É também a deusa/princípio do senso de realidade. Este respeito implica na prática da equidade, verdade, justiça, no respeito às leis e aos indivíduos, e na consciência que o tratamento que se inflige aos outros pode nos ser infligido.

Mâat não era adorada somente na religião do Antigo Egito, estava presente também na sociedade, a Neteret Mâat faz parte da base da criação da sociedade egípcia, também era compreendida como um conjunto de preceitos éticos, esses preceitos orientavam a conduta do homem egípcio; fornecia os princípios primordiais para o posicionamento moral do homem na sociedade em que vivia. Mâat tratava-se de um princípio imutável, inscrito no coração dos homens desde a criação. Opor-se a este princípio significava desarmonia e consequentemente: caos e sofrimento. “cada um aja segundo seu coração”. No julgamento dos mortos, Osíris pesava as almas de todos que chegassem ao Salão de Julgamento subterrâneo com a pena da verdade, cedida por Mâat. Era colocada a pluma na balança, e no prato oposto o coração do falecido. Se os pratos ficassem em equilíbrio, o morto podia festejar com as divindades e os espíritos dos mortos. Entretanto, se o coração fosse mais pesado, ele era devolvido para Ammit para ser devorado.

Consta que logo depois de gerados Shu e Tefnut separaram-se de Atum, que enviou seu olho para procura-los. Quando encontra seus filhos, o olho do deus Atum chora e de suas lágrimas surge à humanidade. Da junção dos três (Atum enquanto Espírito Primário), Shu enquanto Vida e Tefnut como a Ordem Cósmica, surgem Geb (Terra) e Nuit (Céu). Por fim, os dois se apaixonam e do amor de Hadit e Nuit surge os mais radiantes dos seres, ele foi chamado de Rá, que significa “Iluminação e Esperança”.

O poder de Rá era tão grande que iluminava e aquecia a Terra, fazendo com que ela se fertilizasse. O calor e a radiação que Rá produzida fizeram com que a Terra (Hadit ou Geb) possuísse o calor necessário para que as primeiras formas de vida fossem produzidas no planeta. Rá era de certa forma, um ser muito forte e com poder ilimitado, porém muito solitário, pois Nuit e Hadit ocupavam-se muito com seu amor. Então do ventre de Nuit surge Toth (ou Tahuti), que assumiu a forma da Lua, pois Tahuti era a beleza, o encanto, a divinação e a magia.


Neter Thoth SABEDORIA - É o deus da escrita e da sabedoria, os egípcios acreditavam que Thoth tinha criado os Hieróglifos, a matemática, astronomia, magia, alquimia, arquitetura, medicina, em fim, representava todos os conhecimentos científicos.
 
É o Deus da Lua. Thoth é representado com a imagem de um Íbis (pássaro), por ele ter um bico parecido com a lua. Thoth compreendia todos os mistérios da mente humana, ele representa o advogado da humanidade.

No tribunal de Osíris, havia uma balança onde era colocada em um dos pratos a pena de Mâat e no outro o AB (coração do morto). Cabia a Thoth examinar e determinar a dignidade do morto, Thoth penetra na mente dos homens para identificar seus sentimentos e propósitos, era considerado o Escriba confidencial do Deus Osíris, ele anotava minunciosamente cada julgamento, assinalando se aquele que estava sendo julgado havia conduzido bem, se tivera uma vida digna e honrada. A escrita era muito importante para o povo daquela época, a partir dela era possível imortalizar as coisas para que não se perdessem com o tempo, os egípcios sabiam muito bem disso, e podemos ver que estavam certos, pois uma parte da cultura deles ainda é viva por causa dos hieróglifos, a escrita por meio de imagens e símbolos. . É representado com um Íbis, um homem com cabeça de Íbis ou ainda um babuíno.



Rá e Tahuti tornam-se melhores amigos e passam a fazer tudo juntos. Um dia Tahuti, lendo a sorte de Rá, viu que um irmão ainda não nascido o derrotaria. Rá preocupou-se, não queria perder o posto de Senhor dos Neteru e então fez um acordo com seu avô Shu, para criar o vácuo, sob pena de parar de aquecer o solo. Nuit e Hadit (Geb) foram separados pelo Vácuo, dessa forma Rá conseguiria evitar a fecundação de sua mãe Nuit.

Porém Nuit já carregava cinco irmãos de Rá e Tahuti em seu ventre, quando Rá ficou sabendo enganou Tahuti para obter sua ajuda para decretar que nenhum novo Neteru poderia nascer enquanto o Sol tocasse a Terra, e ao mesmo tempo, fez com que a Barca Solar parasse de andar, fazendo com que sempre fosse dia no Antigo Egito. Assim, passaram-se mais de cinco mil anos, e como Nuit não podia dar a luz, seu ventre foi se expandindo ao infinito, formando a imensidão do espaço. Cada um dos cinco Neteru em seu ventre passou a ser representado por uma estrela, pois assim como o Sol, essas estrelas tinham um poder imensurável (quando ouvimos a expressão “Todo homem e toda mulher é uma estrela!” refere-se a isso, pois as pessoas são comparadas a esses Neteru, que são conhecidos por “Os Não Nascidos”).

Tahuti, compadecido pela tristeza de sua mãe Nuit, pegou um tabuleiro de xadrez (Rá gostava muito desse jogo) e foi até Rá. Tahuti, com sua astúcia, usou da arrogância de Rá para enganá-lo, foi deixando Rá vencer a maioria das partidas. Assim alguns anos se passaram, enquanto Rá ganhava e comemorava suas vitórias, Tahuti ia roubando algumas horas de Rá, e com essas horas formou cindo dias sem Sol. Sem Rá perceber, Tahuti fez com que em cada dia nascesse um dos Neteru que estavam no ventre de Nuit. (Thoth criou o calendário com 365 dias, o anterior possui apenas 360, e foi dessa forma que Thoth conseguiu os cinco dias adicionais). Nascem os “Não Nascidos”, os Neteru não nascidos vieram a ser conhecidos pelos nomes: Unefer (Ausat ou Osíris), Weret Wekau (Auset ou Isis), Rá-Hoor-Khuit (Hórus ou Horoeris), Néftis e Hotep Sekhus (Set). Ainda no ventre de Nuit, Unefer e Weret Wekau se casam, assim como Hotep Sekhus e Néftis.



A Lenda do Nome Mágico

Contam os mitos egípcios que governou o mundo um poderoso Deus. Ninguém conseguiu descobrir seu verdadeiro nome, pois ele se transformava para não ser reconhecido. Era conhecido pelo nome de Deus Oculto.
Isis sabia que o Deus Oculto era o condutor de barca do Sol. E assim ela seguiu o barqueiro e descobriu que ele caminhava pelo céu.

No dia seguinte quando o Deus Oculto parou para descansar, a Deusa esperou que o suor pingasse em sua face e o misturou ao barro, formando uma massa com a qual modelou como uma serpente venenosa e fez com que ela picasse o Deus Oculto.

O Deus oculto gritava de dor dizendo:

- Eu jamais havia visto uma serpente igual a essa. (O Deus Oculto conhecia todas as criaturas existentes).

- Diga-me, Deus soberano, qual o teu verdadeiro nome? Disse Isis

- Muitos são meus nomes: somente meu pai me chama pelo verdadeiro nome, não posso revelar meu verdadeiro nome, pois ele me deu esse nome para que ninguém pudesse me enfeitiçar com Magias e assim se apoderasse de minha eterna sabedoria.

- Diga-me, Deus oculto qual o seu verdadeiro nome, e eu te ajudarei. Com um feitiço com teu nome secreto, poderei retirar o veneno do teu corpo.

- Meu nome é Rá. Este é meu nome dado por mim e por meu pai.

- Na mesma hora, um poderoso encanto saiu da boca de Isis e o corpo de Rá ficou livre do veneno.

A Deusa o curou, mas Rá pagou o preço Isis passou a exercer poder eterno sobre ele. E, assim, Isis se tornou superior de todos os outros Deuses.



Soror Zoé #Z