Viking é um termo habitualmente usado para se referir aos exploradores, guerreiros, comerciantes e piratas nórdicos (escandinavos) que invadiram, exploraram e colonizaram grandes áreas da Europa e das ilhas do Atlântico Norte a partir do final do século VIII até ao século XI.
Esses vikings usavam seus famosos navios dragão para viajar do extremo oriente, como Constantinopla e o rio Volga, na Rússia, até o extremo ocidente, como a Islândia, Groenlândia e Terra Nova, e até o sul de al-Andalus.Este período de expansão viking - conhecidos como a "era viking" - constitui uma parte importante da história medieval da Escandinávia, Grã-Bretanha, Irlanda e do resto da Europa em geral.
As concepções populares dos vikings geralmente diferem do complexo quadro que emerge da arqueologia e das fontes escritas. A imagem romantizada dos vikings como bons selvagens germânicos começaram a fincar suas raízes no século XVIII e isso evoluiu e tornou-se amplamente propagado durante a revitalização viking do século XIX. A fama dos vikings de brutos e violentos ou intrépidos aventureiros devem muito ao mito viking moderno que tomou forma no início do século XX. As atuais representações populares são tipicamente muito clichês, apresentando os vikings como caricaturas. Eles também fundaram povoados e fizeram comércio pacificamente. A imagem histórica dos vikings mudou um pouco ao longo dos tempos, e hoje já admite-se que eles tiveram uma enorme contribuição na tecnologia marítima e na construção de cidades.
Fazendas
A vida em uma fazenda durante a “Era Viking” necessitava de muito trabalho duro. A maioria das fazendas vikings produzia culturas e animais suficientes para sustentar todos os que viviam na fazenda, sejam humanos ou animais. A maioria dos vikings eram agricultores, mesmo que parte do tempo realizassem trocas com pescado. As fazendas eram geralmente pequenas, a não ser que o proprietário fosse rico. Enquanto algumas eram isoladas, outras fazendas eram agrupadas em pequenas aldeias agrícolas.
Como os invernos eram graves nas terras escandinavas, o gado era mantido dentro de casa durante o inverno. Isto significava que os agricultores tinham que crescer feno suficiente para manter seu gado vivo durante esse tempo.
Além de feno, os agricultores aumentavam a produção de cevada, centeio e aveia. As mulheres preparavam as hortas, e algumas fazendas tinham pomares de maçã. O plantio e a colheita eram realizados de acordo com as estações do ano. Algumas tarefas eram feitas durante o ano todo: reparação das cercas, limpar a sujeira dos estábulos dos animais, coletar madeira ou esterco para as fogueiras, fabricar ou consertar ferramentas, ordenhar vacas e ovelhas e alimentar galinhas e patos. Todos trabalhavam, desde crianças. Os escravos faziam o trabalho mais difícil, o trabalho mais árduo.
Quando os homens partiam para a pesca ou expedições de pilhagem, as mulheres assumiam o controle das fazendas. Por essa razão, as mulheres ocupavam certa quantidade de poder na sociedade viking. As crianças não iam à escola; meninos aprendiam as tarefas dos homens e meninas aprendiam ajudando suas mães. A maioria dos homens retornavam para as safras de inverno e suas fazendas logo após as expedições.
No verão, bovinos e ovinos eram muitas vezes levados a um lugar mais alto para o pasto melhor. Os porcos eram muitas vezes postos em liberdade para vaguear na natureza até a hora de cercá-los e abatê-los para o inverno. Cavalos eram mantidos mais perto da fazenda já que eram usados para o trabalho agrícola e transporte. Vacas leiteiras, ovinos e caprinos também ficavam mais perto das fazendas já que tinham que ser ordenhados diariamente. Os vikings apreciavam queijos, manteiga, leite e soro de leite e os valorizavam até mais do que a carne.
As fazendas e aldeias vikings não ficavam no mesmo lugar. Tanto as fazendas e vilas mudavam cem metros a cada geração para tirar proveito dos solos frescos. Mas isso mudou com a transição para o cristianismo quando os vikings construíram igrejas de pedra e as aldeias permaneceram no mesmo lugar.
Moradia
As paredes das casas eram feitas de placas de terra apoiadas em estruturas de madeira. Não havia janelas, apenas portas e todas bem pequenas (um indicativo da baixa estatura dos vikings no Século X, como aliás, a maioria das populações humanas da época). Por dentro, o piso era de terra batida com buracos para fogueiras e suportes para caldeirões.
Em cômodos grandes, a família se acomodava sobre tablados em camas e bancos recobertos por peles de carneiros e tecidos de lã. Alguns dormitórios eram separados por paredes internas de tábuas. As áreas de trabalho incluíam tear, cozinha e laticínio (os vikings produziam coalhadas, queijos e manteiga). O banheiro era coletivo, com troncos compridos a guisa de assento sanitário e canaletas de pedra em declive, com portinhola externa, para a retirada dos dejetos.
Escrita
Apesar de não terem livros, os vikings pagãos não eram iletrados. Usavam uma escrita composta de letras chamadas runas. Hoje está na moda atribuir todo tipo de poderes mágicos aos usuários do alfabeto rúnico.
As runas eram uma escrita alfabética simples que podia ser adaptada para vários usos: comemorativos, jurídicos, práticos. A magia foi mais uma aplicação que os vikings lhe deram.
Na Escandinávia se desenvolveram sinais característicos, muito simplificados. A escrita rúnica consiste mais em linhas retas que em linhas curvas, e geralmente se pensa que se desenvolveu para gravar em madeira, dado que as linhas retas são mais fáceis de gravar puma matéria de grão resistente. Rapidamente se usaram as runas em outros materiais: em osso, metal e pedra. Em certa época, o alfabeto rúnico teve 24 letras, mas no inicio da época viking a quantidade tinha sido reduzida a 16. Aquelas letras não bastavam para representar todos os sons das línguas nórdicas, e o soletrar era muito idiossincrásico. Isso faz com que os textos rúnicos vikings sejam difíceis de interpretar.
Mas não era fácil dominar o nórdico antigo: cada letra tinha mais de um significado ou fonema. Como não havia papel, tinham de esculpir poemas e homenagens em pedra, madeira ou osso. Por isso, deixar registros escritos não era comum, o que dificulta muito a vida de historiadores até hoje. Mas os vikings escreviam seus nomes e pequenos bilhetinhos em muitos objetos. Em escavações recentes, foi encontrado um pedido singelo, escrito em um pequeno pedaço de osso: “beije-me”.
Na Islândia, que a língua falada pelos vikings se mantém sem grandes mudanças, a ponto de os islandeses serem capazes de ler os escritos originais das sagas de deuses, heróis e colonizadores do passado. E também é lá – na terra do fogo e do gelo, localizada entre a Europa e a Groenlândia – que as cinzas vulcânicas preservaram algumas moradias e instalações rurais, fornecendo os melhores retratos da vida cotidiana nos anos 900 a 1100, considerada a época de ouro desse povo nórdico.
Vaidosos até a morte
Eles eram metrossexuais, não tinham sobrenomes e conviviam com a poligamia e o divórcio. Entenda como era a vida dos nórdicos livres
Os nórdicos gostavam de ritos e símbolos. No dia a dia de uma cidade viking, era comum ver homens maquiados, mulheres repletas de joias como se fossem princesas e escutar poemas recitados ao ar livre. Na hora do adeus, rolava muito sexo, álcool e mais mortes.
Fashionistas
Na batalha, eles ficavam suados e sujos, mas, no dia a dia, não dispensavam o pente e a maquiagem. E ninguém andava com unha cheia de terra. A “necessaire” de um viking continha uma profusão de pentes, pinças e palitos de dente. Como não havia garfo, só facas, comia-se com os dedos. Mas, logo após as refeições, havia cubas próprias para lavar as mãos, em um ritual de higiene que terminava com a limpeza das unhas e dos dentes. Os pentes, em si, eram um capítulo à parte. Tinham cabos decorados com ornamentos, e tudo leva a crer que eram artigos valorizados, mas amplamente usados por guerreiros a escravos. A maquiagem também era um hábito unissex. Em um relato, o árabe-espanhol At-Tartushi, que visitou Hedeby, uma das mais importantes cidades vikings, no século 10, escreveu que tanto os homens quanto as mulheres pintavam os olhos de preto. Os sábados eram reservados ao banho semanal. Depois de limpos, era tradição arrumar o cabelo com enormes tranças e vestir a melhor roupa. As franjas eram comuns assim como o undercut, o hábito de raspar a parte debaixo do cabelo, próximo à nuca, tendência hoje no mundo todo. Os homens usavam túnicas até os joelhos, com calças, mantos com pregas em um dos ombros e botas feitas de pele de cabra. As mulheres vestiam uma espécie de vestido de lã de corte reto. A nobreza tinha o hábito de manter, em uma argola, objetos de primeira necessidade: chave, uma pequena faca, uma tesoura e uma agulha.
Joias Gigantes
Vikings eram doidos por broches. Foi encontrada uma profusão deles nos túmulos dos chefes, todos em bronze, prata e ouro. Eram usados para segurar mantos e xales – alguns chegavam a pesar 1 kg. Colares e braceletes também faziam parte do traje cotidiano da classe alta e distinguiam ricos e pobres. Até dava para saber a conta bancária pelas joias. Funcionava assim, segundo um relato árabe feito em 920: a mulher cujo marido tinha 10 mil dirhams (a moeda de prata árabe) usava um colar de ouro maciço; e a cada 10 mil dirhams a mais, ganhava um novo colar, e assim por diante. Algumas mulheres tinham vários deles, com berloques com símbolos pagãos, como o martelo de Thor, um dos símbolos mais usados.
Poesia no ar
Guerreiros recitavam poemas em campos de batalha. Na hora do embate, enquanto alguns tremiam, outros improvisavam versos. Criar estrofes e recitá-las era considerado uma habilidade essencial do homem nórdico e estava presente do café da manhã ao jantar. Qualquer situação era motivo para declamar. O historiador islandês medieval Snorri Sturluson, autor do Edda em Prosa, considerada a maior fonte literária da mitologia nórdica, descreveu na Saga de St. Olaf, datada de 1230, um episódio que ilustra bem esse apreço. Logo antes da batalha de Stiklestad, em 1030, o rei Olaf 2°, da Noruega, pediu ao poeta do reino recitar alguns versos. Foram tão épicos que os sobreviventes agradeceram ao poeta por ter levantado o moral da tropa antes da derrota (o rei foi morto). A poesia eddaica tinha enredos envolventes em estrofes curtas, gravadas em pedras e pedaços de madeira. Os nórdicos tinham um incrível poder de concisão.
Ritos Funerários
Os enterros eram ritos pirotécnicos e sanguinolentos, que mobilizavam toda a comunidade. Por acreditar que os mortos precisavam de um meio de transporte para alcançar o além, eles dispunham os corpos em pequenas embarcações de madeira em chamas, ricamente adornadas com móveis, joias, animais decapitados e frutas. Mas a preparação começava bem antes. Uma das mais famosas descrições de um enterro nórdico foi a do chefe dos rus, da região de Volga, atual Rússia. Após dez dias de preparação, o corpo do chefe do clã foi levado ao interior de um barco, onde havia armas, cadeiras e camas. Cavalos, vacas e cães foram sacrificados, esquartejados e colocados junto ao corpo. Depois, a família perguntou aos escravos e servas (muitas vezes, amantes do patrão) quem desejava se unir ao defunto. Uma serva se prontificou. Teve o corpo lavado por outras escravas e foi levada a um festão, cheio de bebidas e sexo. Ela passou por vários homens antes de ser levada à embarcação, onde foi estrangulada enquanto uma mulher com o rosto tapado, conhecida como anjo da morte, enfiava uma adaga nas suas costelas. Seu corpo foi disposto junto ao do chefe, e um parente do morto ateou fogo no barco. Nos enterros mais simples, era costume jogar terra sobre o cadáver, formando um pequeno monte.
Casamento
Os vikings foram os inventores da cerimônia de casamento como conhecemos hoje, com direito a troca de alianças, véus, grinaldas e lua de mel, costumes que influenciaram os cristãos e ganharam o mundo. Na Era Viking, anéis simbolizavam o compromisso entre guerreiros, reis e casais. As festas de casamento eram regadas a hidromel e ocorriam em época de lua nova. Os homens, algumas vezes, eram polígamos, mas a primeira esposa tinha prevalência sobre as demais e usava uma espécie de chaveiro exclusivo na cintura. As esposas se dividiam nos cuidados com os filhos e enteados sem crises de ciúmes. Elas tinham todo o direito de pedir o divórcio e casar com outro.
O casamento nada mais era que uma grande festa que as famílias davam e todo Kindred comparecia, a união era tida como judicialmente legal após os noivos serem visto na festa matrimonial por seis pessoas. O vestido da noiva era feito pelas meninas da tribo, o vestido era bordado com muitos enfeites, a noiva usava uma coroa de flores ou de algum metal precioso, muitas jóias de prata e ouro e anéis de ouro eram muito comuns em casamentos de diversas classes. A festa do matrimônio era feita geralmente na casa dos pais da noiva cabendo ao anfitrião da mesma, preparar com antecedência de seis meses as bebidas do casamento, entre elas o famoso mjoðr (Hidromel), sendo esse o fator que originou o termo “lua de mel” para o momento pós-celebração. Na cerimônia, eram comuns os rituais utilizando espadas ancestrais, com o noivo recitando sua linhagem e a sabedoria do clã. Entre os karls (fazendeiros), era comum a utilização do mjölnir, o martelo deThor, para prover a fertilidade da noiva e esse um item era muito usado em casamentos e funerais devido ao fato de Thor ser o deus guardião de Midgardr, o que o tornava muito famoso talvez até mais que Odin para os antigos. O dia mais requisitado para a celebração era a sexta-feira, o dia de Frigg a esposa de Óðinn, guardiã do lar, protetora da gravidez, maternidade e dos casamentos.
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"Na enorme sala de uma casa de madeira de seis cômodos, os parentes entoavam canções pedindo a proteção das deusas Frigg e Freya. No quarto, uma mulher de joelhos prestes a dar à luz berrava, amparada por duas escravas. Depois de horas em sofrimento, finalmente a cabeça do bebê surgiu. Suada, mas viva (o que já era uma vitória numa época em que muitas mulheres morriam no parto), a mãe recebeu o filho, que nasceu sem deformações. Os bebês com problemas eram abandonados na floresta – o método também era usado para controle da natalidade até a introdução do cristianismo na região, que condenou a prática. Na sala, a notícia foi recebida com festa. A comemoração se estendeu na mesa, com pães e blinis, pequenas panquecas de massa fermentada consumidas com manteiga, peixe, queijo e frutas.
O bebê ficava nove dias sem nome. Em um ritual íntimo, o pai segurava a criança no colo, respingava água em seu corpo e lhe dava um nome, em geral o de um parente morto admirado. Os nórdicos acreditavam que a personalidade de uma pessoa podia ser transferida a outra dessa forma. O menino recebeu o nome de Úlf (lobo na língua local), o mesmo de seu avô paterno, um guerreiro conhecido na Noruega. Era comum dar nome de animais, ou de dois deles juntos, como Úlfbjörn ou “Lobo-urso”, ou de deuses. Não existiam sobrenomes hereditários. Outro hábito da época consistia em acrescentar ao primeiro nome um aposto, indicando o local de nascimento, uma posse (como armas) ou ainda um atributo pessoal, como Sigrid, a Ambiciosa, casada com o rei Eirikr, o Vitorioso.
Úlf mal deixou o berço e já estava envolvido com a ordenha de cabras na pequena fazenda de seu pai, Ragi, um agricultor que pertencia à classe dos homens livres (que se transformavam em guerreiros durante as invasões de verão). A sociedade viking tinha três classes: a dos chefes, que exerciam domínio sobre determinados povoados; a dos fazendeiros, como Ragi, e a dos escravos, que não tinham direito algum. O pai de Úlf podia andar armado e expressar suas visões na Thing, uma espécie de parlamento que reunia representantes de diversas regiões. Ragi era o representante da sua aldeia na assembleia que ocorria no verão e era dedicada a resolver todo tipo de questões, como brigas por terra entre vizinhos. As decisões da Thing não eram transcritas em ata, mas comunicadas à comunidade inteira. Se o povo acatava, valia como lei.
Ragi era dono da própria terra, herdada do pai. Mas havia também grandes latifundiários que loteavam fazendas e as arrendavam. Um deles, Jarlabanke, que viveu na metade do século 11 na hoje cidade sueca de Uppsala, fez questão de deixar registrado seu poderio. Mandou esculpir pedras distribuídas por toda a extensão de sua propriedade. Seis delas ainda existem. Em uma, está escrito: Jarlabanke ergueu essas pedras em memória de si mesmo em vida. Sozinho ele era dono de Täby inteira. Deus ajude a sua alma. Em outra, menciona outros feitos, como a construção de um local para a realização dos encontros da Thing: Jarlabanke ergueu essas pedras em memória de si mesmo em vida, fez desse o local da Thing e sozinho era dono desse distrito inteiro.
Enquanto isso, crianças como Úlf não tinham muito tempo para a infância. Ajudavam as mães no campo e, nas horas vagas, recebiam lições para se defender de inimigos e de animais selvagens, como ursos."